quinta-feira, 31 de março de 2011

Humildade e futilidade

   Muitas vezes, a humildade lembra-me um saco que aos poucos vai ficando roto, começa por segurar as coisas grandes, pesadas, mas, com o uso e o esforço, acaba por deixar cair até as mais pequenas. Ser humilde implica muitos sacrifícios, uma luta permanente contra a vaidade e a presunção. Nem sempre sinto que esta luta seja honesta e digna. Primeiro porque a modéstia nem sempre é inata e espontânea, é muitas vezes um comportamento que aceitamos como socialmente correcto, mas que não responde a uma necessidade muito humana de enveredar pelo errado, pelo fútil (A futilidade é como os livros ou filmes light, não é para pensar, é precisamente para  não o fazer, é um momento leve, livre e oco. A futilidade é terapeutica, recomendo-a vivamente, sem culpas, diversão sem intelectualidade, é esta a solução); segundo porque a humildade, quando não é travada, descai na subserviência e no servilismo e isso é indigno, mata a vontade, anula os desejos e perverte a moral.
   A humildade só faz sentido quando se faz calada, sem alardes. Está no sorriso "onde arde um coração em melodia"(José Gomes Ferreira) , discreta e franca, o ruído desvirtua-a.
   Às vezes sinto o meu saco todo rotinho, sobretudo quando fui humilde mas não o fui de facto, forçei-me ao politicamente correcto e cansei. Então, apetece-me logo ver uma comédia romântica, daquelas que têm um final imensamente feliz e, porque não, bem piegas!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Chefe de cuisine

   Alguém fez o favor de me lembrar, com toda a razão, que cá em casa não faltam chefes de cuisine. Para corrigir uma falha imperdoável da minha parte, fica aqui só um exemplo dos pitéus com que a nossa chefe Teresa nos faz engordar. Podemos, inclusive, vê-la em acção, compenetradíssima! Já agora, eu também faço um bolo de noz, nham, nham.

A nossa chefe residente nas férias


 





Os sonhos da chefe Teresa


Este é o meu bolo de noz. Faz um sucessão!


A Primavera à espera

   Olha aí as primeiras flores da minha horta.







Hermeto Pascoal & Aline Morena

   Fui ver um concerto deste maravilhoso compositor e adorei, adorei, adorei. Adorei a sua delicadeza, a doçura e paz em cada palavra, adorei a humildade da Aline diante de um mestre (uma lição de vida!), adorei a música espalhada nos instrumentos mais inusitados.
   Recordo, de tudo o que o Hermeto disse, uma frase mais que todas - a criatividade não é bolada. Imediatamente, quase como um clique, pensei numa entrevista que li da Zélia Gattai. Dizia ela que um dia, ao perguntar ao marido (o escritor Jorge Amado) o que achava de um texto que ela tinha escrito, ele lhe tinha respondido - Zélia, tenta não fazer literatura!
   Houve uma altura em que eu quis ser escritora e, quando li esta entrevista, pensei muito no alcance destas palavras. Continuo a pensar, mas o Hermeto ajudou-me a perceber mais um pouquinho da frase do Jorge Amado, é que ele também disse o sentir deve vir sempre primeiro que o saber. Maravilhoso Hermeto!
P.S. De repente também pensei na redação do meu sobrinho, não há ali nada bolado.


O bilhete, o CD e o autógrafo do Hermeto e da Aline

  


O Hermeto e a Aline a dar autógrafos muito cansados


Redação

        As redações das crianças são, só por si, um poema, são feitas de uma transparência muito simples, sem arranha-céus nas palavras e eu gosto de as ler e ainda mais de me surpreender com a sua linguagem arrebatadoramente primitiva e leve.

 

quinta-feira, 24 de março de 2011

Bom apetite!

  Nunca tive jeito para cozinhar. Quando morava com as minhas irmãs, ficava sempre com a parte menos criativa da cozinha, ou lavava a loiça ou varria, nunca cozinhava (mas comia, e bem!), estava convencida que não o fazia bem. Hoje, que já não tenho as minhas cozinheiras, tenho que dar o corpo ao manifesto e fazer uma ou outra refeição e, se há dias, muitos, em que não acerto com o tempero, outros há em que a coisa não fica tão mal assim. Ora, esta situação faz-me lembrar o provérbio que diz - a necessidade aguça o engenho. Quem sabe?... Se eu continuar a tentar, ainda acabo dona de um restaurante! Eu serei a dona, os responsáveis pelos pitéus serão a Flora e o Chico. Senão, vejam:
  
Chefes Florinda e Chico

Chefe Chico

  
Chefe Chico

 
Resultado: refeição deliciosa!


Esta sou eu a dar um ar da minha graça. Lá que está colorido...


quinta-feira, 17 de março de 2011

Luísa Sobral

   Conheci esta música através do blog "A Substância da Vida" da Laurinda Alves. Gosto da música e gosto do blog.

domingo, 13 de março de 2011

O povo saiu à rua

   Ai, Portugal, Portugal, de que é que tu estás à espera? 
   É nestas alturas que penso na eleição do Mestre de Avis. O povo das crónicas de Fernão Lopes é o mesmo que hoje esteve em Lisboa, no Porto, em Leiria, em todo o país, na rua, a reclamar, a recusar, a exprobrar. Também na altura o povo se levantou para acudir ao país. E são tais as semelhanças que deixo aqui um excerto da Crónica de D. João I e um outro retirado do jornal O público de hoje.

   A gente começou a juntar-se a ele, e era tanta que era estranha cousa de ver. Não cabiam pelas ruas principais, e atravessavam lugares escusos, desejando cada um ser o primeiro. (...) E por vontade de Deus, todos feitos de um só coração com vontade de o vingar, quando chegaram às portas do Paço, que tinham sido fechadas antes que chegassem, com medonhas palavras começaram a dizer (...)
   Alguns bradavam por lenha e que viesse lume para porem fogo aos paços e queimarem o traidor e a aleivosa. Outros teimavam pedindo escadas para subir acima, para verem que era do Mostre. E em tudo isto era o tumulto tão grande ,que se não entendiam uns com os outros nem determinavam cousa nenhuma. E não somente era isto à porta dos paços, mas ainda em redor deles, por onde quer que coubessem homens e mulheres. Umas vinham com feixes de lenha,, outras traziam carqueja para acender o fogo, pensando queimar com ela o muro dos paços, dizendo muitos doestos contra a rainha.
Crónica de D. João I

   Milhares de pessoas saíram hoje às ruas em várias cidade do país e transformaram o Protesto Geração à Rasca numa manifestação de todas as idades, todos os grupos, todas as palavras de ordem. A organização fala em 200 mil pessoas em Lisboa e 80 mil no Porto. A PSP admite 100 mil e 60 mil. 
   (...) o desfile começou de forma discreta, mas pessoas de todos os quadrantes políticos, da extrema-esquerda, à extrema-direita (embora sem políticos conhecidos presentes), de todas as idades, muitos reformados, muitos pais com crianças na mão e vários movimentos de cidadãos juntaram-se ao protesto.
   O desfile foi animado por palavras de ordem como "com precariedade não há liberdade", "fora com os ladrões" e "Portugal, Portugal, Portugal".
Jornal O Público
  
   As grandes multidões em sintonia comovem-me, são um foco de luz. Todos aqueles cartazes que costumava analisar na aula de História parecem ter voltado à vida. Se estivermos com atenção, conseguimos ouvir a Vieira da Silva bradar: a poesia está na rua. Mas, então, por que carga de água me sinto tão expectante, tão pouco poética? Se eu conseguisse ao menos entrever o novo mestre de Avis?

sábado, 12 de março de 2011

À espera de D. Sebastião

   Tenho a secretária cheia de papéis à espera que lhes toque, à espera de manuseamento, à espera... Tenho a vontade sentada, à espera que os papéis se resolvam sozinhos.
   Quando não gostamos do trabalho que temos entre mãos, qualquer coisa nos parece muito mais atraente, até lavar a loiça ou limpar sapatos. Por isso, tenho as botas lustrosas, os sapatos polidos  e as tiras das sandálias a espelhar. Estou a pensar continuar, as chanatas estão bem precisadas. O problema são os papéis que lá continuam à espera. Já agora, as gavetas da cozinha também já levavam uma boa arrumação, e as da cómoda do quarto de hóspedes porque as do meu quarto já limpei, organizei - collans num lado, mini-meia no outro, soquetes dentro de um caixa onde vinham os cremes da boticário que me deram no Natal, coturnos numa boceta de sapatos onde diz try a pair, ...
   Qualquer coisa que noutra altura me pareceria enfadonha, fastienta e escusada, agora surge como uma tarefa a precisar de urgência, uma urgência que apagará a outra. Mas os papéis lá estão, cabeçudos, teimosos na sua emboscada. Como diz a Matilde, do livro do Sttau Monteiro,  não sabemos por onde começar. Claro que ela logo a seguir dá uma dica: mas é preciso começar. Antes disso, acho que já faz um tempo que não limpo a garagem...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Quando a fonte vira mar

   E de repente o mundo caiu-lhe nos ombros. Inteiro e pesado. Sentiu pela primeira vez a sua exigência, sem rede. Estava cansada!
   O mundo é feito de redes invisíveis, frágeis, refeitas a cada dia, recosidas e elásticas. Vamos caindo nelas em quedas parceladas, aos poucos, aos poucos, todos os dias um pouco mais. E então ela rasga, e todas as quedas se encontram naquela, maior, enorme. A fonte torna-se um rio e o rio vai ter ao mar...
   Voltou a ouvir o médico -Você está esgotada!- e foi como se um segredo se revelasse finalmente, um segredo guardado no dia a dia das canseiras.
   Deixou-se mergulhar no mar, pediu um barco e ele tornou-se mais brando, o mar que já foi rio e que já foi fonte. Precisa de outra rede...

Damien rice

Delicate
We might kiss when we are alone
When nobody's watching
We might take it home
We might make out when nobody's there
It's not that we're scared
It's just that it's delicate
So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you
Why do you sing with me at all?
We might live like never before
When there's nothing to give
Well how can we ask for more
We might make love in some sacret place
The look on your face is delicate
So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you
Why do you sing with me at all?
So why do you fill my sorrow
With the words you've borrowed
From the only place you've known
And why do you sing Hallelujah
If it means nothing to you
Why do you sing with me at all?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Dietas e leões

   Hoje comecei uma dieta. A sério! Por isso, para começar bem, comprei um Lyon. Não dizem que o leão faz a força? Ou será a união? Bom, agora já comi o chocolate, devia ter pensado nisso antes. Que azar! Oxalá o cacau me enfronhe da força bruta do leão, seja a fera capaz de olhar de cara o monstro traiçoeiro da gula.
   Confesso que hoje me enchi de simbolismo (com caramelo é mais fácil!) e pedi ao dito animal que me emprestasse as suas garras. Não o fez. Talvez amanhã seja mais generoso do que foi hoje. A crise chega a todo o lado e o leão não pode andar por aí generosamente a emprestar força, ora essa! A não ser que comece a cobrar algum. Soa-me a um bom negócio!
   Daqui por uns dias (meses? anos?) gritarei do alto dos meus stilletosO leão (leoa) mostra a sua raaaaça! Me aguardem!
   P.S. Por falar em simbolismos ou leões falidos, lembrei-me do Sporting. Não me lembrei dele na melhor altura, poças! Eu bem sabia que não devia ter comprado um Lyon!...