segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Porto, Porto, mas minha terrinha a Uz ...

   As pessoas na aldeia têm sempre tempo e esse tempo traz-lhes um saber natural, desenvaidecido, sabem porque sabem e não porque alguém lhes  disse. O Ti Manel do Fenteirô hoje disse isto: Esta  Tchuivinha faz bem, a terra já precisava, a auga é o sangue da terra. O meu tio é um poeta sem saber!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Vacances II

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   - Temos que profitar que o tempo num espera, mal que tal lá voltamos à autorroute virados ò estranja. Mas agora é tempo de profitar as férias ...
   Aqui acorda-se cedo, é do hábito. Lá, todos os dias às 5, 6 da manhã o relógio desperta para mais um dia de trabalho. Aqui o ritmo é diferente, mas o hábito, o maldito hábito de levantar cedo ... é que não há como escapar... A minha mãe está mais velha, cada ano que passa vejo-a mais pequenina, ou há-de ser uma maladia ou então a própria idade que já começa a contar. O meu pai é mais rijo, mas lá anda a maldita que também não o perdoa ... coitado do meu pobre, quando me vê, os olhos ficam assim a modos que molhados, sempre a esbagoar. Ùma tristeza grande à mistura com a alegria de me ver mais um ano.
   Estão felizes os dois, aqui dizem que quando eu cá estou, eles parecem remoçar... voltamos a morar juntos e tudo parece voltar a ser como antes. De repente o meu filho chama: - Papá, tu viens?...
   

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Vacances I

   Chegam e enchem a terra de sol e sorrisos. Abraços, beijos gordos, fartos, a matar as saudades. Do lado de cá as casas ficam maiores, mesmo as mais pequeninas, enchem-se as camas, a mesa, as conversas acontecem em catadupa, mais soltas, com vozes altas e alegres. Contam-se as novidades guardadas, pergunta-se muito, responde-se, e as palavras surgem urgentes e mais vivas do que o habitual. E a terra, sempre tão silenciosa, de um silêncio sem voz, começa a despertar desse entorpecimento. E as palavras surgem num português engasgado e frágil, de mistura com línguas estranhas que teimam em sobrepor-se  ...  (continua)

sábado, 3 de março de 2012

Incongruências

   "Vou vivendo!" Não gosto desta frase, é a mais desgraçada definição de preguiça e frustração que eu conheço, pior do que "Estou f..." porque esta ainda implica um rasgo de energia, uma atitude, a outra é o fim da linha, pior, aceita o fim como se aceita uma refeição que em lugar de pão serve migalhas.
    E de repente lembrei-me das lutas de bois, nem sei muito bem porquê. Estes, no auge da luta, vão-se engalhando em fúria para, no instante seguinte, sem mais nem porquê, pararem, virarem as costas ao adversário e olharem o público que o chama em brados "Eh toiro! Eh toiro!", e pasmam do interesse, interrogadores. Depois voltam-se, lentamente, muito lentamente, de cota no ar, e, não sei se pelo bramido da multidão invetiva se pela sua própria vontade, vão-se cornejando de novo, adversários de circunstância. Será que a nossa vontade precisa de uma multidão a acirrá-la?